DOSAGEM DO CONCRETO: AJUSTE DO TRAÇO ATRAVÉS DA MISTURA EXPERIMENTAL

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Durante o processo de dosagem, a partir do método ACI (American Concrete Institute) ou qualquer outro método utilizado, as características que se espera do concreto produzido precisam ser validadas através de uma mistura experimental do traço obtido. Devemos utilizar o traço inicial para nortear o processo de dosagem e ajustá-lo pois, via de regra, alguma das situações descritas abaixo pode ocorrer:

  • Abatimento (consistência) fora do esperado na realização do Slump Test
  • Baixa coesão
  • Resistência abaixo do valor da resistência de dosagem especificada pela norma f_{cj} = f_{ck} + 1,65\cdot S_{d}
    Vale ressaltar que a resistência à compressão será verificada a partir da moldagem de corpos de prova, rompidos geralmente nas idades de 3, 7, 14 e 28 dias. Observa-se, portanto, que o parâmetro da resistência demora para ser validado.
    É possível utilizar a estimativa do desenvolvimento da resistência para confirmar se os resultados parciais (3, 7 e 14 dias) estão dentro dos valores previstos. Caso seja observado que o concreto produzido não tem potencial para atingir a resistência, economiza-se tempo rodando um novo traço corrigido.
  • Resistência muito superior ao valor da resistência de dosagem especificada pela norma f_{cj} = f_{ck} + 1,65\cdot S_{d}
    Caso a resistência aos 28 dias se apresente muito superior ao valor da resistência de dosagem, pode ser viável realizar uma otimização do traço para reduzir o consumo de cimento e, consequentemente, o custo final por metro cúbico.

MISTURA EXPERIMENTAL

O traço inicial obtido pelo método ACI, conforme a planilha disponibilizada, deve ser avaliado a partir de uma mistura experimental. Note que os principais parâmetros estão indicados abaixo:

1 : a : p : x

Teor de Argamassa – α (%): \alpha = \frac{1 + a}{1 + a + p} \times 100

Relação Água / Materiais Secos – H (%): H = \frac{x}{1 + a + p} \times 100

A partir do Teor de Argamassa – α (%) e da Relação Água / Materiais Secos – H (%), será possível realizar ajustes das características do concreto em seu estado fresco (coesão e consistência, respectivamente).

O traço inicial que será rodado em betoneira, segundo o exemplo exposto, terá:

  • 7kg de cimento (1 x 7)
  • 11,34kg de areia (1,62 x 7)
  • 16,87kg de brita (2,41 x 7)
  • 3,29L de água (0,47 x 7)

A princípio, devemos garantir que as propriedades no estado fresco sejam atendidas (coesão e consistência) e avaliar posteriormente (3, 7, 4 e 28 dias) a resistência à compressão.

ANÁLISE DA CONSISTÊNCIA DO CONCRETO

Para análise da consistência, utiliza-se o Slump Test conforme a ABNT NBR 16889:2020.

ANÁLISE DA COESÃO DO CONCRETO

Para avaliar a coesão do concreto após a realização do slump test, aplica-se alguns golpes com a ponta da haste de adensamento sobre a base, se o tronco de concreto desmoronar / cisalhar é sinal de que o teor de argamassa está baixo. Se a forma do agregado graúdo estiver muito evidente na superfície (vazios entre os agregados graúdos) da pilha também pode indicar que o teor de argamassa está abaixo do ideal. Por fim, é possível verificar o teor de argamassa ao se passar uma colher de pedreiro sobre a massa de concreto, o ideal é que ela corra formando uma superfície lisa, sem o ruído característico da colher em contato com o agregado graúdo.

AJUSTE DO TRAÇO INICIAL

COESÃO DO CONCRETO

Caso seja necessário realizar ajustes na coesão do concreto, podemos alterar o Teor de Argamassa – α (%) do traço. De modo geral, um ajuste de  \pm 1% é suficiente para se obter o Teor de Argamassa ideal. A planilha está limitada em um ajuste máximo de  \pm 2% em relação ao Teor de Argamassa do traço inicial.

CONSISTÊNCIA (FLUIDEZ) DO CONCRETO

Caso se observe que o abatimento ainda não está de acordo com o que se espera do concreto em seu estado fresco, seja para mais ou para menos, é possível ajustá-lo alterando a Relação Água / Materiais Secos – H (%) do traço inicial. Ajustes na ordem de 0,5, em geral, são suficientes. Vale ressaltar que a planilha está condicionada para um ajuste máximo de  \pm 1% em relação ao traço inicial, portanto, caso a diferença no abatimento seja muito alta e um ajuste de \pm 1% não seja suficiente, talvez seja necessário redosar para um abatimento maior.

FATOR A/C (ÁGUA / CIMENTO)

A resistência à compressão do concreto tem relação direta com o fator A/C utilizado: quanto maior esse valor, maior a quantidade de água na mistura que, após a secagem, torna o concreto mais poroso e menos resistente.

O ajuste da relação A/C é válido quando:

  • a resistência à compressão obtida no traço tenha se apresentado superior ao valor pretendido. O valor do A/C pode ser aumentado, reduzindo o consumo de cimento para o mesmo volume de água no traço.
  • a resistência à compressão obtida no traço tenha se apresentado inferior ao valor pretendido. O valor do A/C deve ser reduzido, aumentando o consumo de cimento para o mesmo volume de água no traço.
  • na utilização de aditivos redutores de água para garantir maior plasticidade. Nem toda a água adicionada serve para hidratar o cimento, e ao reduzir o consumo de água e manter o mesmo consumo de cimento, a relação A/C diminui. Isso resulta em um concreto mais resistente, pois a redução da relação A/C diminui a porosidade e aumenta a densidade da mistura. Confira mais sobre o uso de ADITIVOS REDUTORES DE ÁGUA PARA CONCRETO em nosso post dedicado.

ADIÇÃO DE MATERIAL

Após rodar o traço inicial em betoneira e realizar os possíveis ajustes, o traço corrigido será obtido realizando a adição de material, conforme indicado na imagem abaixo:

Se para o traço inicial tínhamos:

  • 7kg de cimento (1 x 7)
  • 11,34kg de areia (1,62 x 7)
  • 16,87kg de brita (2,41 x 7)
  • 3,29L de água (0,47 x 7)

Acrescentando o material indicado na aba “ADIÇÃO DE MATERIAL” no traço inicial, teremos:

  • 7kg + 1kg = 8kg de cimento (1 x 8)
  • 11,34kg + 1,22kg = 12,56kg de areia (1,57 x 8)
  • 16,87kg + 2,09kg = 18,96kg de brita (2,37 x 8)
  • 3,29L + 0,47L = 3,76L de água (0,47 x 8)

Portanto, para se ter uma amostra do TRAÇO CORRIGIDO e verificar se as propriedades em seu estado fresco estão de acordo com o que se espera, basta acrescentar o material indicado.

CONCLUSÃO

A dosagem correta do concreto é um aspecto crucial na construção de estruturas resistentes e duráveis. A proporção correta dos componentes influencia diretamente na resistência mecânica do concreto e, consequentemente, na capacidade da estrutura suportar cargas e tensões previstas em projeto, mantendo as deformações dentro dos limites previstos.

Com auxílio da planilha disponível no site e as orientações sobre como realizar os ajustes do traço inicial, é possível rodar o traço ideal e validar as propriedades que se espera do concreto em seu estado fresco e no estado sólido.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Tecnologia do Concreto

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